quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

UMA LIÇÃO PARA O DOUTOR

Um senhor idoso, morador de Belo Horizonte, que era pai de um reno­mado médico mineiro, fo­ra acometido por uma en­fermidade que resistia, bravamente, a todos os recursos da medicina acadêmica utilizados por seu filho e outros colegas de profissão.
Com o passar do tempo e o definhamento lento, mas constante, do ancião, alguns dos seus familiares tentaram sugerir ao Doutor que procurasse rever o seu receituário; orgulho­samente, porém, o jovem médico retrucou que seu pai tinha o privilegio de estar contando com a as­sistência de alguns dos médicos "mais caros e mais solicitados pela fina nata da sociedade”.
Apesar da empáfia do clínico, o enfermo conti­nuou a definhar.
Certo dia, aproveitan­do-se da ausência do Doutor, um dos seus irmãos solicitou a Raul Hanriot que comparecesse à cabeceira do doente, vi­sando a obtenção de al­guma forma de auxílio espiritual. O médium Raul, falecido em 1939, era famoso por seus diagnósticos de doenças complicadas, chegando a usar de fenômenos físicos em inúmeros casos.
O médium atendeu ao chamado e na presença de poucos amigos e membros da família, entrou em tran­se, tendo incorporado uma entidade que perso­nificava um “preto ve­lho".
Jesuíno, esse o nome da entidade, com uma pronúncia bastante carac­terística, conversou com o doente, e começou a apli­car-lhe um passe.
Nesse instante, irrompe pelo quarto, o outro filho do velho, o Doutor, que, com palavras bastante ás­peras, lamentou o pouco que seus familiares fa­ziam dos seus conheci­mentos, a ponto de irem­ buscar "um homem ignorante que mal sabia falar", para interferir no tratamento do seu pai.
Diante de tais acontecimentos, a voz doce e calma de Jesuíno se modificou, e o médium Raul Hanriot teve a sua postura inteiramente alterada, foi com uma voz firme e que não disfarçava um ligeiro sotaque francês, e a elegância de um nobre, que se dirigiu ao jovem acadêmico:
- "Se é esta a sua von­tade, meu jovem colega, vamos ter uma conversa de especialista para espe­cialista, pois o meu peito foi agraciado com todas as honrarias e condecorações que pode receber um médico na França. Enquanto vivi como pro­fissional da medicina, com a vista obscurecida pela vaidade e pelo orgulho, fui um aristocrata que conseguiu alcançar uma clínica ultra-selecio­nada e obter os mais vul­tosos honorários. Naquele tempo, Doutor, eu era muito semelhante ao que você hoje demonstra ser".
Após tal intróito, na mais sofisticada termino­logia técnica, a entidade comentou com seu colega terreno a doença que corroia o organismo do seu pai e os motivos pelos quais o diagnóstico feito pelo acadêmico não havia sido correto.
A precisão dos concei­tos emitidos e o requinte da terminologia emprega­da pelo doutor do astral abalaram profundamente a arrogância do jovem, que tentava, sem resultados, descobrir uma falha, um deslize, por menor que fosse, que pudesse reforçar novamente a sua incr­edulidade.
"Agora, a entidade espiritual completou, se você quiser, ainda, maiores detalhes sobre o mal que rouba a saúde do seu pai, leia a pagina 317 do livro que ontem à noite você trouxe e colocou em sua estante. Lá está a deta­lhada descrição de tudo que acabamos de comen­tar aqui.
Confuso e inteiramente assombrado, uma vez que nenhum dos seus familia­res poderia saber do tal livro, o Doutor correu ao seu quarto, e, emociona­do, constatou a correção de tudo quanto lhe fora dito, até mesmo o detalhe da página, que ele próprio desconhecia.
Os presentes à cabecei­ra do doente e que ser­viam de testemunhas atô­nitas para o que se passa­va, puderam notar a mo­dificação da expressão do jovem médico quando es­te retornou ao quarto do seu pai.
Sua arrogância havia desaparecido, seus olhos estavam marejados de lá­grimas, e sua voz saia a custo, quando ele balbuciou: “Doutor, o senhor está certo... Ajude-me, agora, a salvar o meu pai."
Nesse instante, o mé­dium voltou a assumir a postura e o linguajar ca­racterísticos de Jesuíno, e foi na personificação de "preto velho", que ele continuou: - "Foi para vencer a minha vaidade e o meu orgulho de médico mundano que, após a mi­nha morte, eu pedi a Deus para voltar como um pobre negro, escravo dos brancos, que se haviam arvorado em senhores da vida dos seus irmãos de cor. Como Jesuíno, sofri muito e apanhei tanto, que um dia, a ponta do chicote do feitor vazou um dos meus olhos.
Eu era um negro igno­rante, meu filho, tão igno­rante que mal sabia falar. Apesar disso, sempre que podia, eu corria até a ca­pela e, de joelhos, no canto mais escondido, mas com o coração atado a todos os corações que sofriam, eu apenas repetia e repetia para Jesus: "Meu Senhor, Jesuíno está aqui”
Um dia, ao pronunciar minha única e modesta oração, adormeci para acordar envolto em uma luz, muito brilhante, ou­vindo uma voz que me dizia - "Jesuíno, eu ouvi a tua súplica"
Por isso, filho, como recordação dessa vida tão humilde para o mundo do corpo, mas tão importante para a evolução do espíri­to, é que me apresento sempre como Jesuíno; foi somente como preto escravo que eu consegui aprender o verdadeiro sentido da palavra Amar".
Poucos dias após os acontecimentos aqui co­mentados, as testemunhas do caso tiveram satisfei­tas a prova de que uma dupla cura fora realizada, através da mediunidade de Raul Hanriot: o doente do corpo, abandonara o leito inteiramente restabelecido, e o Doutor, antes doente do espírito, abraçara a doutrina do Cristo e passara a dedicar uma parte do seu tempo para atender aos pobres e desvalidos.

artigo da Revista Espírita Allan Kardec, Ano 3, número 10

Pensamento do dia: "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor, por sua origem ou religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar" (Nelson Mandela)

3 comentários:

  1. Bonita história. Na década de 70, morei em uma rua chamada Raul Hanriot, bairro São Lucas, em Belo Horizonte/MG. Cheguei até a esta página impulsionado pela minha curiosidade de saber quem foi Raul Hanriot.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ppois cheguei aqui da mesma forma. Paula Hanriot Bloomfield :)

      Excluir
    2. https://www.facebook.com/groups/historiadepedroleopoldo/

      Tenho foto dele.

      Excluir