UMA LIÇÃO PARA O DOUTOR
Um senhor idoso, morador de Belo Horizonte, que era pai de um renomado médico mineiro, fora acometido por uma enfermidade que resistia, bravamente, a todos os recursos da medicina acadêmica utilizados por seu filho e outros colegas de profissão.
Com o passar do tempo e o definhamento lento, mas constante, do ancião, alguns dos seus familiares tentaram sugerir ao Doutor que procurasse rever o seu receituário; orgulhosamente, porém, o jovem médico retrucou que seu pai tinha o privilegio de estar contando com a assistência de alguns dos médicos "mais caros e mais solicitados pela fina nata da sociedade”.
Apesar da empáfia do clínico, o enfermo continuou a definhar.
Certo dia, aproveitando-se da ausência do Doutor, um dos seus irmãos solicitou a Raul Hanriot que comparecesse à cabeceira do doente, visando a obtenção de alguma forma de auxílio espiritual. O médium Raul, falecido em 1939, era famoso por seus diagnósticos de doenças complicadas, chegando a usar de fenômenos físicos em inúmeros casos.
O médium atendeu ao chamado e na presença de poucos amigos e membros da família, entrou em transe, tendo incorporado uma entidade que personificava um “preto velho".
Jesuíno, esse o nome da entidade, com uma pronúncia bastante característica, conversou com o doente, e começou a aplicar-lhe um passe.
Nesse instante, irrompe pelo quarto, o outro filho do velho, o Doutor, que, com palavras bastante ásperas, lamentou o pouco que seus familiares faziam dos seus conhecimentos, a ponto de irem buscar "um homem ignorante que mal sabia falar", para interferir no tratamento do seu pai.
Diante de tais acontecimentos, a voz doce e calma de Jesuíno se modificou, e o médium Raul Hanriot teve a sua postura inteiramente alterada, foi com uma voz firme e que não disfarçava um ligeiro sotaque francês, e a elegância de um nobre, que se dirigiu ao jovem acadêmico:
- "Se é esta a sua vontade, meu jovem colega, vamos ter uma conversa de especialista para especialista, pois o meu peito foi agraciado com todas as honrarias e condecorações que pode receber um médico na França. Enquanto vivi como profissional da medicina, com a vista obscurecida pela vaidade e pelo orgulho, fui um aristocrata que conseguiu alcançar uma clínica ultra-selecionada e obter os mais vultosos honorários. Naquele tempo, Doutor, eu era muito semelhante ao que você hoje demonstra ser".
Após tal intróito, na mais sofisticada terminologia técnica, a entidade comentou com seu colega terreno a doença que corroia o organismo do seu pai e os motivos pelos quais o diagnóstico feito pelo acadêmico não havia sido correto.
A precisão dos conceitos emitidos e o requinte da terminologia empregada pelo doutor do astral abalaram profundamente a arrogância do jovem, que tentava, sem resultados, descobrir uma falha, um deslize, por menor que fosse, que pudesse reforçar novamente a sua incredulidade.
"Agora, a entidade espiritual completou, se você quiser, ainda, maiores detalhes sobre o mal que rouba a saúde do seu pai, leia a pagina 317 do livro que ontem à noite você trouxe e colocou em sua estante. Lá está a detalhada descrição de tudo que acabamos de comentar aqui.
Confuso e inteiramente assombrado, uma vez que nenhum dos seus familiares poderia saber do tal livro, o Doutor correu ao seu quarto, e, emocionado, constatou a correção de tudo quanto lhe fora dito, até mesmo o detalhe da página, que ele próprio desconhecia.
Os presentes à cabeceira do doente e que serviam de testemunhas atônitas para o que se passava, puderam notar a modificação da expressão do jovem médico quando este retornou ao quarto do seu pai.
Sua arrogância havia desaparecido, seus olhos estavam marejados de lágrimas, e sua voz saia a custo, quando ele balbuciou: “Doutor, o senhor está certo... Ajude-me, agora, a salvar o meu pai."
Nesse instante, o médium voltou a assumir a postura e o linguajar característicos de Jesuíno, e foi na personificação de "preto velho", que ele continuou: - "Foi para vencer a minha vaidade e o meu orgulho de médico mundano que, após a minha morte, eu pedi a Deus para voltar como um pobre negro, escravo dos brancos, que se haviam arvorado em senhores da vida dos seus irmãos de cor. Como Jesuíno, sofri muito e apanhei tanto, que um dia, a ponta do chicote do feitor vazou um dos meus olhos.
Eu era um negro ignorante, meu filho, tão ignorante que mal sabia falar. Apesar disso, sempre que podia, eu corria até a capela e, de joelhos, no canto mais escondido, mas com o coração atado a todos os corações que sofriam, eu apenas repetia e repetia para Jesus: "Meu Senhor, Jesuíno está aqui”
Um dia, ao pronunciar minha única e modesta oração, adormeci para acordar envolto em uma luz, muito brilhante, ouvindo uma voz que me dizia - "Jesuíno, eu ouvi a tua súplica"
Por isso, filho, como recordação dessa vida tão humilde para o mundo do corpo, mas tão importante para a evolução do espírito, é que me apresento sempre como Jesuíno; foi somente como preto escravo que eu consegui aprender o verdadeiro sentido da palavra Amar".
Poucos dias após os acontecimentos aqui comentados, as testemunhas do caso tiveram satisfeitas a prova de que uma dupla cura fora realizada, através da mediunidade de Raul Hanriot: o doente do corpo, abandonara o leito inteiramente restabelecido, e o Doutor, antes doente do espírito, abraçara a doutrina do Cristo e passara a dedicar uma parte do seu tempo para atender aos pobres e desvalidos.
artigo da Revista Espírita Allan Kardec, Ano 3, número 10
Pensamento do dia: "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor, por sua origem ou religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar" (Nelson Mandela)
Bonita história. Na década de 70, morei em uma rua chamada Raul Hanriot, bairro São Lucas, em Belo Horizonte/MG. Cheguei até a esta página impulsionado pela minha curiosidade de saber quem foi Raul Hanriot.
ResponderExcluirPpois cheguei aqui da mesma forma. Paula Hanriot Bloomfield :)
Excluirhttps://www.facebook.com/groups/historiadepedroleopoldo/
ExcluirTenho foto dele.