AJUDANDO A CHORAR
Elisângela saiu de casa, no horário habitual, para
buscar sua filha Raquel na escola. Era uma linda garota de seis anos, doce e
amorosa, que se convertera na luz daquele lar.
Parando o carro em frente ao prédio, como sempre
fazia, a mãe buzinou cinco vezes, como era de costume. Aquilo era um código entre
ambas, e a filha, tão logo identificava os sons, saia, festiva, para encontrar
os beijos maternos e retornar para o ninho doméstico.
No entanto, naquele dia, Raquel não saiu. Elisângela
buzinou novamente, mas a menina não saia. Avistando uma funcionaria na porta
da escola, pediu-lhe o favor de procurar a filha, no que foi prontamente
atendida.
Passados alguns minutos, a pequenina era trazida,
guiada pela mão esquerda, enquanto a direita era utilizada para enxugar grossas
lagrimas que teimavam em cair de seus olhos.
Chegando ao carro, abraçou-se à mãe e continuou o seu
choro. Elisângela, acolhendo a filha e com carinho, perguntou se ela tinha
caído, se machucado; queria, enfim, saber o que estava acontecendo.
Raquel, com os olhos ainda marejados, respondeu:
- Sabe, mamãe, a Joaninha? Pois é! A boneca dela
quebrou. Era a boneca mais querida dela, mamãe!
- Ah, filhinha, foi mesmo?
- Foi, mamãe, foi. Aí eu demorei tanto assim, porque estava
lá, ajudando ela.
Ouvindo aquelas palavras, Elisângela perguntou:
- Quer dizer que você estava ajudando sua amiguinha a
consertar a boneca?
Registrando a pergunta e pensando por um momento, a
menina respondeu:
- Não, mãezinha. A boneca quebrou de vez, não tem
jeito.
E, num jeito de olhar bem característico, fitou a mãe
e completou:
- Eu estava ajudando ela a chorar...
Nesse momento, nos recordamos de Jesus, quando nos
ensinou que precisamos ser como as crianças, se quisermos alcançar o reino dos
Céus.
A pureza dos sentimentos e das iniciativas desses
'pedacinhos de gente' nos revelam lições que os livros e os discursos mais
eloqüentes nem sempre conseguem comover nossos corações.
Quando vemos um irmão em dor, em sofrimento,
costumamos recomendá-lo a resistir, a que tenha resignação e que compreenda que
tudo aquilo possui uma causa, não havendo, portanto, a injustiça Divina.
Ocorre que, em algumas circunstâncias, tais pessoas
que nos procuram, não necessitam de sermões longos e exaustivos, nem estão,
no momento, em condições de raciocinar sobre nossa preleção. Eles carecem,
apenas, de que reconheçamos e possamos ter suficiente sensibilidade para,
sintonizados com suas dores, podermos, simplesmente, "ajudar a
chorar".
Publicado no jornal Correio Fraterno,
março-abril de 2012
Pensamento do dia: " Nosso coração sente muito mais rapidamente aquilo que nossa mente custa a descobrir" (Autor desconhecido).
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