sexta-feira, 11 de maio de 2012


AJUDANDO A CHORAR


Elisângela saiu de casa, no ho­rário habitual, para buscar sua filha Raquel na escola. Era uma linda garota de seis anos, doce e amorosa, que se convertera na luz daquele lar.
Parando o carro em frente ao prédio, como sempre fazia, a mãe buzinou cinco vezes, como era de costume. Aquilo era um código en­tre ambas, e a filha, tão logo iden­tificava os sons, saia, festiva, para encontrar os beijos maternos e re­tornar para o ninho doméstico.
No entanto, naquele dia, Raquel não saiu. Elisângela buzinou novamen­te, mas a menina não saia. Avistando uma funcionaria na porta da escola, pediu-lhe o favor de procurar a filha, no que foi prontamente atendida.
Passados alguns minutos, a pe­quenina era trazida, guiada pela mão esquerda, enquanto a direita era utilizada para enxugar grossas lagrimas que teimavam em cair de seus olhos.
Chegando ao carro, abraçou-se à mãe e continuou o seu choro. Eli­sângela, acolhendo a filha e com ca­rinho, perguntou se ela tinha caído, se machucado; queria, enfim, saber o que estava acontecendo.
Raquel, com os olhos ainda ma­rejados, respondeu:
- Sabe, mamãe, a Joaninha? Pois é! A boneca dela quebrou. Era a bo­neca mais querida dela, mamãe!
- Ah, filhinha, foi mesmo?
- Foi, mamãe, foi. Aí eu demo­rei tanto assim, porque estava lá, aju­dando ela.
Ouvindo aquelas palavras, Eli­sângela perguntou:
- Quer dizer que você estava aju­dando sua amiguinha a consertar a boneca?
Registrando a pergunta e pen­sando por um momento, a menina respondeu:
- Não, mãezinha. A boneca que­brou de vez, não tem jeito.
E, num jeito de olhar bem carac­terístico, fitou a mãe e completou:
- Eu estava ajudando ela a chorar...
Nesse momento, nos recordamos de Jesus, quando nos ensinou que precisamos ser como as crianças, se quisermos alcançar o reino dos Céus.
A pureza dos sentimentos e das iniciativas desses 'pedacinhos de gente' nos revelam lições que os li­vros e os discursos mais eloqüentes nem sempre conseguem comover nossos corações.
Quando vemos um irmão em dor, em sofrimento, costumamos recomendá-lo a resistir, a que tenha resignação e que compreenda que tudo aquilo pos­sui uma causa, não havendo, portanto, a injustiça Divina.
Ocorre que, em algumas circuns­tâncias, tais pessoas que nos procu­ram, não necessitam de sermões lon­gos e exaustivos, nem estão, no momento, em condições de raciocinar sobre nossa preleção. Eles carecem, apenas, de que reconheçamos e possamos ter suficiente sensibi­lidade para, sintonizados com suas dores, podermos, simplesmente, "ajudar a chorar".

        Publicado no jornal Correio Fraterno, março-abril de 2012

Pensamento do dia: " Nosso coração sente muito mais rapidamente aquilo que nossa mente custa a descobrir" (Autor desconhecido).

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